5 de novembro de 2017

Maudie


Visto no videoclube de uma operadora de telecomunicações, o filme Maudie (Aisling Walsh, 2016) baseia-se na vida da artista canadiana Maud Lewis (1903-1970), conhecida e apreciada por trabalhar com cores fortes, representando frequentemente cenas ao ar livre, com flores, pássaros, gatos, cães, veados, bois e vacas – arte popular, de contornos ingénuos, mas não totalmente desprovida de interesse. O filme explora até à exaustão o casamento da artista com um homem aparentemente grosseiro e às vezes violento, embora capaz de momentos de bondade, abordando também a relação pouco amistosa da artista com a sua própria família, que não só a rejeita pelo facto de a considerar «deformada» (Lewis sofria de artrite reumatóide) como também a prejudica de diversas maneiras. Maudie não é muito interessante. Tem dois excelentes actores – Sally Hawkins e Ethan Hawke – como protagonistas, mas em papéis que não lhes assentam bem: quem terá imaginado que Hawke poderia alguma vez ser convincente no papel de brutamontes? Mais grave é o facto de o espectador procurar a artista mas só encontrar as dimensões mais banais e comezinhas da sua biografia. Em certos aspectos, Maudie faz recordar o mediano Séraphine (Martin Provost, 2008), sobre a artista Séraphine Louis (1864-1942), que trabalhava como empregada doméstica, mas em Séraphine há mais interesse pelas questões artísticas. Imaginar-se-ia que a arte e os artistas visuais poderiam ser terreno fértil para o cinema, mas há muitos filmes maus sobre estes assuntos. A arte popular, em particular, parece ser um tema difícil de abordar. Os argumentistas e realizadores deixam-se fascinar pelas dificuldades materiais das vidas dos artistas, esquecendo-se de explorar o que no trabalho deles transcende essa dimensão. À falta de outros argumentos mais interessantes, Maudie vale pelas belas paisagens canadianas e por dar a conhecer uma personagem poderosa e singular, que merece muito mais do que condescendência, apesar da temática ingénua dos seus quadros.