Visto
no videoclube de uma operadora de telecomunicações, o filme Maudie (Aisling Walsh, 2016) baseia-se
na vida da artista canadiana Maud Lewis (1903-1970), conhecida e apreciada por
trabalhar com cores fortes, representando frequentemente cenas ao ar livre, com
flores, pássaros, gatos, cães, veados, bois e vacas – arte popular, de
contornos ingénuos, mas não totalmente desprovida de interesse. O filme explora
até à exaustão o casamento da artista com um homem aparentemente grosseiro e às
vezes violento, embora capaz de momentos de bondade, abordando também a relação
pouco amistosa da artista com a sua própria família, que não só a rejeita pelo
facto de a considerar «deformada» (Lewis sofria de artrite reumatóide) como
também a prejudica de diversas maneiras. Maudie
não é muito interessante. Tem dois excelentes actores – Sally Hawkins e Ethan
Hawke – como protagonistas, mas em papéis que não lhes assentam bem: quem terá
imaginado que Hawke poderia alguma vez ser convincente no papel de brutamontes?
Mais grave é o facto de o espectador procurar a artista mas só encontrar as
dimensões mais banais e comezinhas da sua biografia. Em certos aspectos, Maudie faz recordar o mediano Séraphine (Martin Provost, 2008), sobre
a artista Séraphine Louis (1864-1942), que trabalhava como empregada doméstica,
mas em Séraphine há mais interesse pelas
questões artísticas. Imaginar-se-ia que a arte e os artistas visuais poderiam
ser terreno fértil para o cinema, mas há muitos filmes maus sobre estes assuntos. A
arte popular, em particular, parece ser um tema difícil de abordar. Os
argumentistas e realizadores deixam-se fascinar pelas dificuldades materiais
das vidas dos artistas, esquecendo-se de explorar o que no trabalho deles transcende
essa dimensão. À falta de outros argumentos mais interessantes, Maudie vale pelas belas paisagens
canadianas e por dar a conhecer uma personagem poderosa e singular, que merece
muito mais do que condescendência, apesar da temática ingénua dos seus quadros.