Good
Time, de Ben e
Josh Safdie (2017), visto no videoclube de uma operadora de telecomunicações, apesar
de vir marcando presença em vários tops dos melhores filmes do ano, não
convenceu grandemente o Cinéfilo Preguiçoso. À semelhança de Vão-me
Buscar Alecrim
(2009), dos mesmos realizadores, tem como protagonistas dois irmãos (um deles
com uma deficiência, em Good Time) com
encarregados de educação inadequados, para não dizer perigosos. Vão-me Buscar Alecrim, no entanto, era
um filme mais subtil, onde os efeitos das drogas não se traduziam necessariamente
em violência, movimento imparável e cores berrantes. Em Good Time, os irmãos separam-se logo numa das sequências iniciais,
depois do assalto a um banco, passando um deles o resto do filme numa correria desenfreada,
ao som de banda sonora de Oneohtrix Point Never, em busca de dinheiro para pagar a fiança do
outro. Com movimentos próximos do documentário, a câmara segue Connie (Robert Pattinson) de
acção desastrada em acção desastrada – depois do assalto, Connie tenta
convencer uma namorada descontrolada (Jennifer Jason Leigh, no registo
habitual) a emprestar o dinheiro necessário, a seguir liberta o recluso
convalescente errado num hospital, pensando que se trata do irmão, passa por um
parque de diversões à noite, investiga o comboio-fantasma onde o segundo escondeu
um saque qualquer que pode dar dinheiro e termina num arranha-céus de aspecto
desumano e cercado de muros e quintais labirínticos onde o segurança do parque
de diversões vivia. Visto que, até certo ponto, nenhuma destas acções parece ter
consequências, a estética lembra bastante a dos jogos de vídeo. Alguns momentos
de Good Time recordam igualmente Martin Scorsese e, quando o mau gosto domina, aquilo que poderia
ser um filme de Danny Boyle com pretensões artísticas. A influência de John
Cassavetes também parece fazer-se sentir. Se nos abstrairmos destas filiações
mais ou menos voluntárias, Good Time resume-se
às suas peripécias e ao seu frenesim narrativo e deixa o espectador à míngua de
algum aprofundamento das relações entre as personagens ou de vestígios mais
palpáveis de cunho pessoal.
O Cinéfilo Preguiçoso regressará em
Janeiro. Boas festas para todos.