17 de dezembro de 2017

Good Time


Good Time, de Ben e Josh Safdie (2017), visto no videoclube de uma operadora de telecomunicações, apesar de vir marcando presença em vários tops dos melhores filmes do ano, não convenceu grandemente o Cinéfilo Preguiçoso. À semelhança de Vão-me Buscar Alecrim (2009), dos mesmos realizadores, tem como protagonistas dois irmãos (um deles com uma deficiência, em Good Time) com encarregados de educação inadequados, para não dizer perigosos. Vão-me Buscar Alecrim, no entanto, era um filme mais subtil, onde os efeitos das drogas não se traduziam necessariamente em violência, movimento imparável e cores berrantes. Em Good Time, os irmãos separam-se logo numa das sequências iniciais, depois do assalto a um banco, passando um deles o resto do filme numa correria desenfreada, ao som de banda sonora de Oneohtrix Point Never, em busca de dinheiro para pagar a fiança do outro. Com movimentos próximos do documentário,  a câmara segue Connie (Robert Pattinson) de acção desastrada em acção desastrada – depois do assalto, Connie tenta convencer uma namorada descontrolada (Jennifer Jason Leigh, no registo habitual) a emprestar o dinheiro necessário, a seguir liberta o recluso convalescente errado num hospital, pensando que se trata do irmão, passa por um parque de diversões à noite, investiga o comboio-fantasma onde o segundo escondeu um saque qualquer que pode dar dinheiro e termina num arranha-céus de aspecto desumano e cercado de muros e quintais labirínticos onde o segurança do parque de diversões vivia. Visto que, até certo ponto, nenhuma destas acções parece ter consequências, a estética lembra bastante a dos jogos de vídeo. Alguns momentos de Good Time recordam igualmente Martin Scorsese e, quando o mau gosto domina, aquilo que poderia ser um filme de Danny Boyle com pretensões artísticas. A influência de John Cassavetes também parece fazer-se sentir. Se nos abstrairmos destas filiações mais ou menos voluntárias, Good Time resume-se às suas peripécias e ao seu frenesim narrativo e deixa o espectador à míngua de algum aprofundamento das relações entre as personagens ou de vestígios mais palpáveis de cunho pessoal.

O Cinéfilo Preguiçoso regressará em Janeiro. Boas festas para todos.