28 de outubro de 2018

Rivers and Tides | Brisseau – 251 rue Marcadet


O documentário Rivers and Tides (Thomas Riedelsheimer, 2001) segue o trabalho do escultor e fotógrafo escocês Andy Goldsworthy. Goldsworthy trabalha ao ar livre, com elementos como flores, folhas, pingentes de gelo, pedras, lama, ramos de árvores ou espinhos; geralmente usa as próprias mãos ou recorre a poucas ferramentas. Os objectos que constrói dão a ver formas e energias da natureza em que não reparamos habitualmente (remoinhos, percursos do vento, a configuração dos rios, o formato das pedras, os efeitos da presença de certos animais ou plantas), integrando-se na paisagem ao ponto de por vezes serem por ela devorados ou destruídos – um destino que o próprio artista simultaneamente receia e acolhe como natural e até interessante. As imagens do artista em acção são acompanhadas pelo seu próprio comentário, que demonstra uma grande clareza e profundidade de pensamento sobre o espaço e a vida que ele acolhe, dispensando qualquer voz off ou intervenção alheia, elementos de que Riedelsheimer sabiamente prescindiu. Com uma excelente banda sonora de Fred Frith, Rivers and Tides é uma sereníssima meditação sobre fazer arte como forma de lançar raízes no mundo, mas também sobre a efemeridade do que parece mais duradouro e sobre a persistência do que costuma passar despercebido. Em 2018, foi lançado um segundo documentário (ainda a ver pelo Cinéfilo Preguiçoso), Leaning Into the Wind, que voltou a reunir Goldsworthy, Riedelsheimer e Frith. No DocLisboa, o Cinéfilo Preguiçoso não quis perder a sessão em que passou Brisseau – 251 rue Marcadet (Laurent Achard, 2018), filmado no âmbito da série Cinéma, de notre temps (antes Cinéastes de notre temps). Este episódio distingue-se pelo facto de incluir momentos e comentários em que o realizador pensava não estar a ser filmado. Como ele próprio confessa, Brisseau tinha preparado a fundo o que ia dizer, mas é graças ao momentos mais espontâneos da conversa que ficamos a conhecer melhor os cineastas e os filmes que prefere ou detesta, os três gatos da família, ou certos episódios da sua vida de realizador e cinéfilo.