Quando um filme tenta ser vários filmes ao mesmo tempo, raras vezes sai daí alguma coisa que se aproveite. Em O Primeiro Homem na Lua (2018), o realizador Damien Chazelle e o argumentista Josh Singer (baseando-se numa biografia escrita por James R. Hansen) tentam ilustrar a história do programa espacial norte-americano na década de 60 e ao mesmo tempo explorar o lado humano de um dos seus protagonistas, Neil Armstrong, entre a época em que é apenas um piloto da NASA entre tantos outros e o momento em que se torna o primeiro homem a pisar o solo lunar. (Uma terceira faceta que consiste no retrato político e social da América nessa década, incluindo a rivalidade com a União Soviética e os protestos em face dos custos avultadíssimos do programa espacial, é explorada com pouca convicção.) A vertente mais técnica, quase documental, é de longe a mais conseguida. As sequências a bordo das missões Gemini e Apolo são impressionantes pela maneira como retratam as condições exigentes a que os pilotos estavam sujeitos e também a necessidade de tomar decisões críticas num ambiente de tensão e desconforto extremos. É igualmente interessante a ênfase nos conhecimentos de engenharia aerospacial que os astronautas tinham de possuir, frequentemente esquecidos noutras abordagens, em benefício de aspectos mais mediáticos e glamorosos. O filme resvala para o descalabro quando tenta estabelecer o paralelo, muito forçado, entre a carreira de Armstrong e um percurso quase espiritual de reencontro com as suas emoções. Em momento algum a exploração deste lado mais humano e frágil acrescenta alguma espécie de dramatismo ou espessura à personagem ou vantagem para o filme, limitando-se quase sempre a cenas domésticas, discussões conjugais e diálogos não muito diferentes de milhares de outros que todos já vimos em filmes, séries e telenovelas. A interpretação de Ryan Gosling é um exemplo de como, por vezes, os deuses do cinema escrevem direito por linhas tortas: não sendo um grande actor, a sua inexpressividade acaba por funcionar como um cabide que suporta todos os significados, dimensões heróicas e carga sentimental que nele penduram. Não é por ele que o filme soçobra ou fica aquém do que podia ser. Daí a poder dizer-se que a personagem de Armstrong neste filme desperta um mínimo de interesse vai um grande passo. Depois do triunfo de La La Land (2016), O Primeiro Homem na Lua será certamente usado por alguns como argumento a favor da teoria de que Chazelle é o maior génio da sua geração. O Cinéfilo Preguiçoso continuará à espera de provas mais convincentes.