20 de janeiro de 2019

Moonfleet


Visto em DVD, o filme Moonfleet (1955), pertencente à fase americana de Fritz Lang, baseia-se num livro com o mesmo título, de J. Meade Falkner, publicado em 1898. Devido não só à atmosfera mas também à relação entre um adulto de moralidade duvidosa e uma criança, a intriga, em que um órfão (Jon Whiteley) aparece numa povoação sombria em busca de um homem que talvez seja o seu verdadeiro pai (Jeremy Fox/Stewart Granger), lembra vagamente o enredo de Great Expectations, de Charles Dickens. Infelizmente, ao contrário de Great Expectations, que é um grande romance, Moonfleet pode ser descrito como um divertimento que combina, por vezes sem grande coerência nem equilíbrio, elementos do melodrama gótico com outros dos filmes de aventuras, de fantasmas, de piratas e de capa e espada. Em comparação com outros filmes deste magnífico realizador, desilude um pouco. A dimensão mais sugestiva é, sem dúvida, a que coloca em jogo fantasmas, subterrâneos, criptas, igrejas escuras, poços, praias à noite, mansões em ruínas e um passado desonroso para recuperar. Neste contexto, destaca-se a invulgaridade da personagem da criança, que Bénard da Costa descreveu como «miúdo-cão», pelo facto de seguir Jeremy Fox como um cão dócil – uma característica carregada de ironia, na medida em que o adulto teria sido dilacerado pelos cães que a família da criança atiçara contra ele, guardando ainda as cicatrizes que resultaram desse episódio. Nos seus melhores momentos, Moonfleet é um filme sobre a possibilidade de construir o futuro corrigindo ou reformulando os erros cometidos no passado, mas este tema dilui-se num enredo pouco interessante, ainda por cima com interpretações algo insípidas. Talvez um visionamento em sala, capaz de fazer justiça ao cinemascope e à fotografia rica em tonalidades sombrias, pudesse ajudar a perceber a razão de este filme ter sido levado aos píncaros por uma certa crítica, nomeadamente a francesa.