Depois
do Natal, o Cinéfilo Preguiçoso viu O
Amante Duplo (2017), de François Ozon, baseado no romance Lives of the Twins, de Joyce Carol Oates.
Se Frantz, o filme anterior deste
realizador, jogava com as expectativas do espectador numa moldura aparentemente
inofensiva, superando-as sempre, O Amante
Duplo, pelo contrário, vai confirmando todas as expectativas numa moldura
aparentemente chocante – e com tristes resultados. Os únicos momentos que se salvam
são no início, quando ainda não entraram em acção as convenções associadas quer
ao privilégio do ponto de vista de um protagonista perturbado quer às histórias
sobre gémeos. Quem estiver familiarizado com um número razoável destas
histórias, tanto no cinema como na literatura e até na cultura popular, não
encontrará neste filme qualquer surpresa. Por esse motivo, sentirá que a
insistência no tom chocante é gratuita, superficial e irritante. Se conhecer os
filmes Dead Ringers (1988), de David
Cronenberg, e A Zed & Two Noughts
(1985), de Peter Greenaway, o espectador não conseguirá afastá-los da cabeça. Note-se
que o Cinéfilo Preguiçoso não gosta de dizer mal de François Ozon; no passado,
já teve ocasião de o elogiar (Uma Nova Amiga, de 2014, além do próprio Frantz)
e de o criticar (5x2, de 2004). No
entanto, algo está muito mal quando um filme recorda outros que não
são necessariamente mais interessantes. Quanto ao tão falado Roma (2018), de Alfonso Cuarón, é de facto um filme complexo do
ponto de vista visual, sempre com muita coisa a acontecer em cada plano, com
uma fotografia belíssima e que ganha em ser visto numa sala de cinema. É
interessante que se preste atenção à história supostamente menor de uma
empregada doméstica e que esta personagem se distinga pela individualidade – as
empregadas domésticas dos filmes costumam ser tratadas como criaturas banais e
insignificantes, enquanto esta tem alguma densidade psicológica. À parte estas
duas características dignas de nota, não há, contudo, muito mais a destacar no
filme de Cuarón. Não se pode dizer que Roma
seja um filme realmente memorável. Para terminar, esperemos que 2019 seja um
ano de cinema melhor do que 2018 – com mais pessoas interessadas em ver filmes
em sala (nada contra as outras soluções, desde que não obliterem esta, que
precisa de ser defendida), com menos filmes produzidos e recebidos de acordo
com uma ideia preconcebida do que um “bom filme” deve ser e mais filmes que mostrem o que o cinema pode ser. São os votos do Cinéfilo
Preguiçoso.