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Cinéfilo Preguiçoso assistiu à Double Bill deste sábado na Cinemateca, com os
filmes Esplendor (Naomi Kawase, 2017) e A Mulher do Aviador (Éric
Rohmer, 1981). No primeiro há uma rapariga com o difícil trabalho de fazer descrições
de filmes para pessoas com deficiência visual. Uma das ligações possíveis com o
filme de Rohmer tem a ver com o facto de haver neste duas personagens que
criam uma descrição possível para explicar a relação entre outras duas, que vêem
percorrer uma zona de Paris longe dos roteiros turísticos, no Parque
Buttes-Chaumont e em redor. No filme de Rohmer, conclui-se que a descrição produzida
está errada. Também a protagonista de Kawase tem de corrigir várias vezes a sua
descrição depois de ouvir os comentários – alguns deles relativamente
agressivos – dos consultores invisuais durante as sessões de teste. De resto,
são filmes muito diferentes. Rohmer, que encetou aqui a série Comédias e
Provérbios, aparentemente mais ligeira e menos premeditada do que a dos Contos
Morais, sobressai sempre por conseguir a difícil proeza de fazer um filme
leve, mas muito menos superficial do que outros supostamente mais sérios e
pesados. Em A Mulher do Aviador estabelece-se um contraste entre uma
relação fácil e uma relação difícil que só pode correr mal. Como sucede com tantas
outras personagens rohmerianas, o protagonista mostra-se incapaz de tomar
decisões que rompam o impasse sentimental. Esplendor, apesar de ter como
interessante ponto de partida a profissão da protagonista e a relação desta com
um fotógrafo que está a perder a visão, cai muitas vezes num sentimentalismo
excessivo, ao contrário do que acontece, por exemplo, em Uma Pastelaria em Tóquio (Naomi Kawase, 2015), um filme que, não sendo excepcional, aborda
uma situação complicada sem repisar desnecessariamente a desgraça. Em Esplendor,
durante uma sessão de teste, uma consultora invisual comenta que sente que a
narração da protagonista destruiu «todo o peso e toda a gravidade» do filme que
descreve. O problema é que, ironicamente, na arte, nem sempre o peso e a
gravidade são as melhores formas de expressar peso e gravidade. Pelo contrário,
quando sobrecarregam o conteúdo, produzem precisamente o efeito contrário, que
é o ridículo, associado ao desinteresse do espectador.