Se o
Cinéfilo Preguiçoso se distraísse mais um bocadinho, teria perdido Éden (2014), da
muito apreciada Mia Hansen-Løve, um filme que explora a dificuldade de desistir
dos próprios sonhos, começando nos tempos em que os Daft Punk se formaram e seguindo
alguns músicos – amigos dos elementos deste grupo – que não alcançam o mesmo
sucesso. Assim recordado da rapidez vertiginosa com que alguns bons filmes
passam pelas salas de Lisboa, o Cinéfilo Preguiçoso apressou-se a ver
Phoenix (2014), de Christian Petzold. À semelhança do que se verifica com Carta de
Uma Desconhecida (Max Ophüls), o enredo de Phoenix gira em torno de uma
falha estranha de reconhecimento: o marido não reconhece a mulher judia (Nelly
Lenz, interpretada por Nina Hoss) que regressou de um campo de concentração. Com o
objectivo de receber indevidamente a herança da mulher que ele próprio enviara
para a morte e acreditando que se tratava apenas de alguém parecido com ela,
tenta convencê-la a fazer-se passar por quem na realidade é. Esta falha de
reconhecimento combina-se com um problema de conhecimento: só quando é finalmente
reconhecida pelo marido consegue Nelly Lenz não só aceitar que ele a traiu, mas
também conhecê-lo como ele é. Falta a este filme um golpe de criatividade e
heterodoxia que o liberte de uma realização sóbria e meticulosa, mas não se
pode dizer que os seus objectivos fiquem por cumprir.