21 de fevereiro de 2016

Mistress America


Uma nota prévia de regozijo pela atribuição do Urso de Ouro para melhor documentário a Balada de Um Batráquio, de Leonor Teles, e do Urso de Prata para melhor realização a Mia Hansen-Løve, cujo filme anterior, o muito recomendável Eden, já foi elogiado pelo Cinéfilo Preguiçoso. Tudo isto aconteceu no 66.º Festival de Cinema de Berlim. Passemos ao filme desta semana. Mistress America (2015) é a oitava longa-metragem realizada por Noah Baumbach, não contando com Highball, de 1997, renegada pelo próprio. Mais próximo de Frances Ha (e, tal como este, co-escrito pela actriz Greta Gerwig) do que de While We’re Young ou Greenberg, este filme, ao contrário destes dois últimos, não esboça a mínima tentativa de introspecção psicológica ou de exploração das clivagens intergeracionais. O tom de comédia urbana semeada de referências intelectuais remete-nos para um território bem povoado por Woody Allen, Hal Hartley, Whit Stillman ou Wes Anderson (que colabora frequentemente com Baumbach), mas nenhum destes foi tão longe na desconstrução dos diálogos e situações, que surge ao mesmo tempo como uma homenagem e uma subversão da screwball comedy levada a extremos de requinte por cineastas como Preston Sturges ou Howard Hawks. Como em Frances Ha, em Mistress America abundam os non sequiturs, os intervenientes são caracterizados de forma assumidamente superficial e o argumento e os diálogos evoluem aparentemente ao sabor das peculiaridades das personagens e em particular, por um lado, da ideia fixa (abrir um restaurante) de Brooke (Greta Gerwig) e, por outro, da narração de um conto que a primeira situação inspira a Tracy (cuja intérprete, Lola Kirke, é uma revelação notável). O ponto de partida do filme é a aproximação entre estas duas protagonistas, prestes a tornar-se irmãs por afinidade devido ao casamento próximo (que acaba sendo cancelado) entre o pai de uma e a mãe da outra. Esta premissa, no entanto, não passa de um ténue pretexto para o desenrolar de situações e para um desfecho que nos revela, em retrospectiva, algo completamente alheio à volubilidade e à inconsequência das acções e peripécias precedentes: duas pessoas que procuram o seu lugar no mundo, cujas trajectórias colidiram brevemente e que agora partem para os seus destinos, um pouco mais ricas por se terem visto reflectidas na percepção da outra.