Mais uma
semana, mais um documentário em DVD. Desta vez, Patience (After Sebald), de Grant Gee (2012), um filme que
homenageia o livro Os Anéis de Saturno,
de W.G. Sebald (1944-2001), procurando seguir o percurso do narrador numa
caminhada na região inglesa de Suffolk. Como os outros documentários de que
falámos nas últimas semanas, Patience
recorre a depoimentos, neste caso com a singularidade
de se ouvirem predominantemente as vozes dos diversos admiradores de Sebald entrevistados, porque os rostos aparecem pouco, por
vezes diluindo-se na paisagem. Nestes depoimentos residem
simultaneamente a maior fraqueza e a melhor surpresa deste filme. A maior
fraqueza é o excesso de comentário; o documentário nunca chega a autonomizar-se
do ponto de vista visual: poucas sequências se destacam como verdadeiramente
memoráveis e as palavras são quase sempre mais importantes do que as imagens.
Poder-se-ia dizer que o valor do filme é subsidiário do livro. Por outro lado,
a melhor surpresa deve-se ao facto de convocar uma série de figuras
interessantes nunca antes reunidas no mesmo círculo: fãs tanto de Robert Macfarlane como de Adam Phillips, Tacita Dean, Rick
Moody, Christopher Woodward, Michael Silverblatt ou Iain Sinclair ficam a
perceber de repente que há uma ligação fundamental a uni-los. Sobre Sebald,
justamente uma das ideias mais interessantes que ficam é a da sua capacidade
para estabelecer conexões inesperadas e reveladoras entre elementos (pessoas,
momentos históricos, espaços, conceitos) diferentes e por vezes até
contraditórios: sofrimento e prazer, mobilidade e encurralamento, progressão e
repetição, luto e celebração, beleza e estranheza, exaustão e persistência. A
impressão final é a de um filme mais conservador do ponto de vista formal do
que outro documentário do mesmo realizador sobre uma obra literária (Innocence of Memories, de 2015, em torno
de um romance de Orhan Pamuk), mas talvez mais eficaz, graças ao tom esparso e
sóbrio e à humildade que revela ao seguir à risca a estrutura e a cronologia do
livro. Os testemunhos e a revisitação dos lugares descritos no livro acabam por
evocar Sebald de forma surpreendentemente poderosa, da mesma maneira que uma
nuvem de fumo difusa, numa das cenas finais, se transforma por momentos no
rosto do escritor.