Se há realizador de quem se pode esperar que permaneça fiel aos seus princípios até ao final da sua carreira, esse realizador é Eugène Green. En Attendant les Barbares (2017), visto no IndieLisboa 2018, mostra Green fiel ao seu estilo: representação rígida, dicção apuradíssima, diálogos repletos de formas gramaticais arcaicas, ausência de referências temporais conjugada com sátira da sociedade contemporânea. O filme adopta um tom, totalmente assumido, de parábola: o enredo, baseando-se em seis personagens que se refugiam na morada de um casal de magos para escapar a uma alegada invasão de bárbaros, presta-se a uma miríade de leituras relacionadas com os medos e complexos que envenenam a sociedade contemporânea. Tudo no filme estabelece uma relação de contraste e de resistência com o mundo actual. Green faz coexistir esta intenção alegórica com numerosas farpas dirigidas contra aquilo que se adivinha serem embirrações pessoais, e essa é talvez a maior fraqueza deste filme: os diversos patamares de crítica e ironia diluem a mensagem do filme e prejudicam a sua coerência. Aquilo que ninguém lhe pode negar é a beleza plástica, a esplendorosa austeridade da fotografia, a intensidade dramática das mudanças de iluminação e alguns momentos magníficos de pura loucura narrativa tão típica deste cineasta, como a longa encenação de um excerto da lenda arturiana Roman de Jaufré. Destaca-se também a descrição dos quadros do pintor barroco Nicolas Tournier pertencentes ao convento dos Agostinhos, em Toulouse, que serve de cenário a parte da acção. Green continua a distinguir-se pela singularidade e só por isso já valeria a pena ver os filmes dele.
(De Eugène Green, o Cinéfilo Preguiçoso já comentou os filmes Le Fils de Joseph e La Sapienza.)
(De Eugène Green, o Cinéfilo Preguiçoso já comentou os filmes Le Fils de Joseph e La Sapienza.)