Visto
no IndieLisboa 2018, o filme Person to
Person (Dustin Guy Defa, 2017) pode ser integrado num subgénero que costuma
interessar ao Cinéfilo Preguiçoso: o dos filmes sobre Nova Iorque. Muito
sucintamente, pertencem a este subgénero os filmes que, devido às características
das suas personagens e ao modo como estas são indissociáveis das singularidades
do espaço dessa cidade, só muito dificilmente poderiam situar-se noutro lugar. Dustin
Guy Defa está próximo de outros dois cineastas de Nova Iorque: Alex Ross Perry
e Woody Allen. Com o primeiro, Defa partilha o interesse pelo discurso
introspectivo e muitas vezes artificial das personagens. Com o segundo, um
certo prazer nos trajectos, peripécias e desventuras através da cidade. Em Person to Person, a partir de histórias que
incluem uma perseguição velocipédica a um burlão ou a tentativa de reconstituição
furtiva do percurso de um relógio para escrever um artigo de jornal sobre um
possível homicídio, Defa traça um mapa pouco turístico de Nova Iorque, com ruas
calmas, lojas de objectos usados e personagens com poucas ambições materiais. (A
título de curiosidade, acrescente-se que uma das personagens é um coleccionador
de discos em vinil, encarnado por Bene Coopersmith, ele próprio proprietário de
uma loja de discos em Brooklyn na vida real.) Para o bem e para o mal, o filme
de Defa distingue-se tanto pelo ritmo lento, embora nunca entediante, como pelo
facto de procurar captar não o cinismo das personagens, mas antes o modo como
estas, cada uma à sua maneira, tentam estar presentes na própria vida sem se
traírem – como sublinham as intervenções de Wendy (Tavi Gevinson), que podem parecer
um pouco forçadas mas que soam autênticas a quem já teve aquela idade. Outro
traço distintivo é a ênfase no contacto interpessoal, que, aliás, o próprio
título salienta; num tempo em que quase todos os contactos são virtuais, estas
personagens colidem umas com as outras e fazem um esforço por se explicarem. O
facto de não insistir na tecla dos maus sentimentos até à saturação, evitando
assim o pretensiosismo dos piores filmes que o fazem, garante a Person to Person alguma originalidade,
embora por vezes o faça parecer um pouco inofensivo ou até ingénuo. Uma palavra
ainda para o elenco, que mistura amadores com actores conhecidos, como por
exemplo Michael Cera e Philip Baker Hall, e onde se destaca a interpretação de
Abbi Jacobson, mais conhecida por participar na série Broad City, mas aqui extraordinária no papel de uma ex-bibliotecária
que se vê envolvida numa investigação de homicídio ao serviço de um jornal
sensacionalista.