16 de setembro de 2018

O Fantasma do Paraíso


Na ausência de propostas interessantes em sala, o Cinéfilo Preguiçoso optou por continuar a explorar a filmografia de Brian De Palma. Visto em DVD, O Fantasma do Paraíso (1974) pertence à fase mais delirante e desenfreada deste realizador. O argumento, que gira em torno da relação entre um compositor, Winslow Leach, e um produtor famoso, Swan, que se apropria da música deste para inaugurar uma sala de concertos megalómana, mistura referências ao mito de Fausto, ao Retrato de Dorian Gray e ao Fantasma da Ópera, além de piscadelas de olho pouco subtis ao cinema de Hitchcock, quase inevitáveis no De Palma deste período. Não faltam também extensos números musicais que são outras tantas paródias de estilos como o doo-wop, o surf rock e o glam rock mais ou menos heavy. O estilo é frenético e excessivo, aproximando-se da estética da banda desenhada. É notório que a caracterização psicológica das personagens, as leis da física e a verosimilhança não constavam da lista de preocupações de De Palma quando escreveu e realizou este filme. Em seu lugar, O Fantasma do Paraíso oferece-nos uma sucessão de peripécias mirabolantes, unidas por um nexo causal frágil e invariavelmente derivadas da sede de vingança de Leach e da ambição de Swan, únicas forças motrizes do filme, que se alimentam mutuamente. Repleto não só de invenções e surpresas na montagem e nos enquadramentos mas também de momentos de humor nem sempre conseguidos, O Fantasma do Paraíso é daqueles filmes em que o registo disparatado e extravagante é claramente deliberado. O balanço final, talvez mais do que na maioria dos filmes, depende do gosto de cada um. Neste caso, não custa admitir que a latitude das reacções potenciais seja ampla, da rejeição indignada à veneração, passando pela incredulidade. Para terminar com algumas trivialidades: Paul Williams, que representa o papel de Swan, escreveu as canções do filme e tem uma longa carreira de cantor e compositor, que inclui a letra do tema de abertura da mítica série The Love Boat; Jessica Harper, que neste filme encarna Phoenix, uma cantora que é objecto das atenções dos dois rivais, veio a participar em dois filmes de Woody Allen (Love and Death e Stardust Memories) e nos dois Suspiria, o original de Argento de 1977 e o remake de Guadagnino de 2018; os membros da banda Daft Punk confessaram ter visto O Fantasma do Paraíso mais de vinte vezes; o escritor Bret Easton Ellis, no seu elogio fúnebre do actor William Finley (Winslow Leach), declarou-se fã do filme.