18 de novembro de 2018

Asako I & II


Esta semana, o Cinéfilo Preguiçoso viu um filme inserido na programação do Lisbon & Sintra Film Festival: Asako I & II (2018), de Ryusuke Hamaguchi, cuja longa-metragem anterior, o muito elogiado Happy Hour (2015), estreou recentemente no circuito comercial português. Asako I & II pode ser descrito como o percurso sentimental da personagem principal do filme, Asako, uma jovem que se apaixona por um homem extremamente parecido com o namorado que desaparecera poucos anos antes. A tensão entre o amor fugaz por uma personagem misteriosa, esquiva e ligeiramente transgressiva, por um lado, e o amor por um quadro de empresa sensato e afectuoso, por outro, percorre todo o filme e explode quando o primeiro namorado, que, entretanto, se tornou um modelo famoso, reaparece. Apesar de algumas cenas muito conseguidas, sobretudo as que envolvem personagens secundárias, mas também aquela que mostra as consequências de um sismo que ocorre na escuridão de um teatro imediatamente antes de uma representação de Ibsen, o filme não consegue superar uma certa superficialidade que deriva directamente tanto da natureza volátil e da personalidade insípida da protagonista como da ideia um pouco gasta de que as mulheres são criaturas irracionais e perigosamente imprevisíveis que preferem os homens que as abandonam, ignoram e/ou tratam mal. A história do cinema está cheia de filmes magníficos e complexos baseados em personagens pouco profundas e sentimentalmente erráticas, mas é sempre uma aposta arriscada, a não ser que o realizador se chame Éric Rohmer. Neste caso, a aposta esteve longe de ser totalmente ganha, muito embora não se trate de um filme a evitar. Para terminar numa nota positiva, refira-se que Hamaguchi revela um talento genuíno para filmar o ambiente urbano e que o final, sugerindo algum apaziguamento sem fechar a porta a reviravoltas futuras, é dos momentos mais belos e mais bem geridos de Asako I & II.

O Cinéfilo Preguiçoso continuará a dar notícias do Lisbon & Sintra Film Festival.