Sixteen Candles (1984), de John
Hughes, é um objecto relativamente estranho, apesar de fundir dois géneros do
cinema americano imediatamente reconhecíveis: o filme sobre a adolescência e o
filme sobre o potencial de catástrofe de um dia de casamento. Esta estranheza
deve-se, em primeiro lugar, ao desconforto das personagens: não só a inépcia da
adolescência é devidamente retratada em todos os seus pequenos problemas e
grandes desastres, mas também os adultos de todas as faixas etárias são
representados como adolescentes em ponto grande, sofrendo das mesmas
dificuldades e inadaptações destes, mas a uma escala maior – o desregramento do
baile de escola prolonga-se sem rupturas na desordem e na desorientação da
cerimónia de casamento no dia seguinte. Em segundo lugar, dentro do filme sobre
a adolescência, Sixteen Candles
distingue-se por articular dois subgéneros: o que presta mais atenção às «tropelias»
e aos «disparates» dos rapazes (chamemos-lhes assim, embora alguns dos actos
representados neste filme talvez hoje fossem puníveis com prisão); e o que
presta mais atenção ao suposto imaginário sentimentalista das raparigas,
associado ao final convencionalmente feliz do filme. Deste modo, John Hughes,
satiriza a classe média americana e os seus subúrbios, descrevendo-a como um
conjunto de adolescentes aparvalhados que não sabem muito bem o que fazer com eles
próprios, mas consegue preservar o núcleo de protagonistas, que, parecendo de
algum modo incólumes a tudo o que os rodeia, se destacam não só pela beleza,
mas também pelo individualismo e pela sensatez. Neste contexto, salienta-se a
figura única de Molly Ringwald, com quem John Hughes teve uma relação que ele
próprio gostava de comparar com aquela
entre Jean-Pierre Léaud e François Truffaut, pelo facto de ela ter funcionado
como misto de musa e alter ego num
conjunto de filmes em que ele esteve envolvido como realizador e/ou
argumentista (além deste, The Breakfast Club, de 1985, e Pretty in Pink,
de 1986). A personagem de Ted, interpretada por Anthony Michael Hall (outro
colaborador habitual de Hughes), também merece destaque pela maneira como
evolui: da fanfarronice típica do miúdo que se arma em adulto, até ao bom senso
e à clarividência que contribuem para o desfecho do filme. Por todos estes
motivos, visto quase trinta e cinco anos depois da sua estreia, Sixteen Candles é um filme que continua
a interessar e a surpreender graças ao modo como ao mesmo tempo problematiza e
satisfaz as convenções dos géneros que trabalha.