3 de novembro de 2019

Berlin, I Love You | Hampstead


2019 tem sido um ano interessante do ponto de vista cinematográfico (e de outros também), mas cansativo. Poucas coisas desmotivam mais o Cinéfilo Preguiçoso do que a ideia de ver filmes descritos como “imperdíveis”, “obrigatórios” ou até “relevantes” – e isso deve-se não só ao facto de estes rótulos instalarem a suspeita de o valor destes filmes se circunscrever à sua relação com a época em que são lançados, mas também a uma certa aversão à ideia da relação entre o cinema e a escola. Perante um fim-de-semana prolongado com tempo chuvoso, o Cinéfilo Preguiçoso preferiu brincar com a ideia de fazer uma minimaratona de filmes com potencial escapista, seleccionados no videoclube de uma operadora de telecomunicações. O próprio escapismo, infelizmente, já não é como era, revelando-se tão ou mais extenuante ou exasperante do que outras pretensões. A suposta minimaratona reduziu-se a dois títulos – embora o Cinéfilo Preguiçoso seja capaz de ver mais filmes consecutivamente, muitos mais! Entre o conjunto ainda pequeno de filmes que reúnem histórias em torno de uma cidade, cada uma delas entregue a um realizador diferente, o Cinéfilo Preguiçoso viu agora Berlin, I Love You (2019) e já tinha visto os dedicados a Paris e a Nova Iorque, mas não Rio, Eu Te Amo (2014). Considerando a amostra conhecida, facilmente se chega à conclusão de que reunir várias curtas-metragens autónomas, como só acontece em Paris, je t’aime (2006), produz resultados mais interessantes do que criar uma longa-metragem constituída por pequenos episódios que se vão desenvolvendo aos poucos, entrecruzando-se gratuitamente. Berlin, I Love You tem o problema adicional de assentar em argumentos fraquíssimos e diálogos paupérrimos, pejados de lugares-comuns “ambiciosos”, sobre questões como os refugiados, os migrantes, o movimento #metoo ou a condição transgender, sem esquecer uma homenagem mal conseguida, mas quiçá “essencial”, a As Asas do Desejo (1987) de Wim Wenders. De vez em quando, aparecem actores conhecidos, como Helen Mirren, Mickey Rourke, Luke Wilson e Keira Knightley, que são completamente desperdiçados, e há até um episódio com argumento de Neil LaBute, mas tão mau como os outros. Só quem se interessar muito por Berlim encontrará neste filme algum ponto de interesse muito ligeiro, sobretudo tendo em conta que a cidade funciona apenas como pano de fundo pouco importante e incaracterístico, não se notando qualquer esforço para procurar os seus traços distintivos. O segundo filme que o Cinéfilo Preguiçoso viu foi Hampstead (Joel Hopkins, 2017), com Diane Keaton e Brendan Gleeson. Também Hampstead parece ter a ambição de abordar uma questão premente da nossa época: a crise do imobiliário. Para isso, explora o tópico do bom selvagem a partir de uma personagem que vive de forma auto-suficiente numa cabana que construiu com as suas próprias mãos num terreno abandonado de Londres – que entretanto se tornou valiosíssimo, o que dá origem a ordens de despejo. Para fãs de Diane Keaton e de jardins, como o Cinéfilo Preguiçoso, Hampstead não é um filme desagradável, embora abuse de vários lugares-comuns sem em nenhum ponto tentar uma abordagem minimamente diferente.