2019
tem sido um ano interessante do ponto de vista cinematográfico (e de outros
também), mas cansativo. Poucas coisas desmotivam mais o Cinéfilo Preguiçoso do
que a ideia de ver filmes descritos como “imperdíveis”, “obrigatórios” ou até
“relevantes” – e isso deve-se não só ao facto de estes rótulos instalarem a
suspeita de o valor destes filmes se circunscrever à sua relação com a época em
que são lançados, mas também a uma certa aversão à ideia da relação entre o
cinema e a escola. Perante um fim-de-semana prolongado com tempo chuvoso, o
Cinéfilo Preguiçoso preferiu brincar com a ideia de fazer uma minimaratona de
filmes com potencial escapista, seleccionados no videoclube de uma operadora de
telecomunicações. O próprio escapismo, infelizmente, já não é como era,
revelando-se tão ou mais extenuante ou exasperante do que outras pretensões. A
suposta minimaratona reduziu-se a dois títulos – embora o Cinéfilo Preguiçoso
seja capaz de ver mais filmes consecutivamente, muitos mais! Entre o conjunto
ainda pequeno de filmes que reúnem histórias em torno de uma cidade, cada uma
delas entregue a um realizador diferente, o Cinéfilo Preguiçoso viu agora Berlin,
I Love You (2019) e já tinha visto os dedicados a Paris e a Nova Iorque,
mas não Rio, Eu Te Amo (2014). Considerando a amostra conhecida,
facilmente se chega à conclusão de que reunir várias curtas-metragens autónomas,
como só acontece em Paris, je t’aime (2006), produz resultados mais
interessantes do que criar uma longa-metragem constituída por pequenos episódios
que se vão desenvolvendo aos poucos, entrecruzando-se gratuitamente. Berlin,
I Love You tem o problema adicional de assentar em argumentos fraquíssimos
e diálogos paupérrimos, pejados de lugares-comuns “ambiciosos”, sobre questões
como os refugiados, os migrantes, o movimento #metoo ou a condição transgender,
sem esquecer uma homenagem mal conseguida, mas quiçá “essencial”, a As Asas
do Desejo (1987) de Wim Wenders. De vez em quando, aparecem actores
conhecidos, como Helen Mirren, Mickey Rourke, Luke Wilson e Keira Knightley, que
são completamente desperdiçados, e há até um episódio com argumento de Neil
LaBute, mas tão mau como os outros. Só quem se interessar muito por Berlim
encontrará neste filme algum ponto de interesse muito ligeiro, sobretudo tendo
em conta que a cidade funciona apenas como pano de fundo pouco importante e
incaracterístico, não se notando qualquer esforço para procurar os seus traços
distintivos. O segundo filme que o Cinéfilo Preguiçoso viu foi Hampstead (Joel
Hopkins, 2017), com Diane Keaton e Brendan Gleeson. Também Hampstead
parece ter a ambição de abordar uma questão premente da nossa época: a crise do
imobiliário. Para isso, explora o tópico do bom selvagem a partir de uma
personagem que vive de forma auto-suficiente numa cabana que construiu com as
suas próprias mãos num terreno abandonado de Londres – que entretanto se tornou
valiosíssimo, o que dá origem a ordens de despejo. Para fãs de Diane Keaton e
de jardins, como o Cinéfilo Preguiçoso, Hampstead não é um filme
desagradável, embora abuse de vários lugares-comuns sem em nenhum ponto tentar
uma abordagem minimamente diferente.