Visto no videoclube de uma operadora de comunicações, O Ninho (Sean Durkin, 2020) pode ser descrito como um thriller em torno de uma família que se muda dos Estados Unidos para uma casa gigantesca e decrépita no Surrey, por decisão do pai (Rory/Jude Law), um aventureiro que no passado fez fortuna jogando na Bolsa. O que distingue este filme é a oposição que se estabelece entre dois níveis: por um lado, uma história relativamente comum de um casal com dois filhos entre a infância e a adolescência, cuja vida decorre ao sabor dos caprichos de alguém que parece bom pai e uma pessoa encantadora, mas é imprevisível, mitómano, mentiroso e prejudica os que o rodeiam; por outro, toda a atmosfera sinistra da casa em que moram, explorada a partir das convenções dos filmes de terror, incluindo algumas sequências oníricas (ou quase). (Não surpreende que The Shining (1980), de Stanley Kubrick, seja um dos filmes preferidos do realizador.) Esta articulação não funciona sempre bem; às vezes, a atmosfera de filme de terror parece decorativa e insuficientemente justificada, como um verniz a cobrir aquilo que, de outro modo, seria um drama familiar banal. Como os acontecimentos são comezinhos, o terror não se relaciona directamente com a acção. Tem antes que ver com o contexto em que a acção se desenrola: o filme situa-se nos anos oitenta, numa época em que começavam a instalar-se as práticas especulativas e o clima de desregulação que abriram o caminho para catástrofes financeiras como a crise subprime de 2007, e talvez aí resida a verdadeira razão para o seu carácter sombrio, ominoso e sinistro. Em conclusão, O Ninho é um filme invulgar pela maneira como tenta combinar aspectos e códigos do drama familiar e dos filmes de crítica sociológica e de terror, mas que não nos conquista plenamente enquanto assistimos a ele, embora ganhe com alguma reflexão e interpretação posterior. Esperemos que os cinemas reabram na data prevista!