8 de abril de 2018

Que o Diabo nos Carregue | Lady Bird


O Cinéfilo Preguiçoso aproveitou bem a pausa e viu dois filmes estreados recentemente em sala. As personagens principais de Que o Diabo nos Carregue (2017), de Jean-Claude Brisseau, são três mulheres com um passado conturbado que acabam por encontrar alguma paz e estabilidade na sequência de uma série de peripécias e reviravoltas envolvendo também o ex-amante de uma delas e uma personagem masculina mais idosa, adepta da meditação, cujos discursos vagamente new age e capacidade para aparecer e desaparecer misteriosamente introduzem uma componente sobrenatural muito cara a Brisseau. Estamos longe das indagações obsessivas e lúgubres sobre a natureza do desejo, exploradas em filmes como Coisas Secretas (2002) e Os Anjos Exterminadores (2006). Em Que o Diabo nos Carregue, tudo se passa num plano mais elementar, onde o simples desejo de felicidade se sobrepõe a todos os outros. A impressão que fica é a de um filme menos ambicioso e menos coerente do que os anteriores deste realizador, mas a simplicidade quase artesanal de meios, a maneira como remete para os primórdios do cinema fantástico (embora por vezes exagerando no kitsch) e uma confiança quase rohmeriana no acaso contrastam de modo refrescante com os filmes hiperproduzidos que hoje dominam o panorama cinematográfico. Lady Bird (2017) é o primeiro filme realizado por Greta Gerwig, uma das actrizes mais visíveis do cinema independente norte-americano actual (se descontarmos Nights and Weekends, de 2008, que realizou com Joe Swanberg). É difícil perceber o que motivou a cascata de prémios, nomeações e elogios: não há muito que distinga Lady Bird das muitas dezenas de filmes sobre conflitos emocionais da adolescência e sobre a emancipação da tutela dos pais. É certo que as interpretações de Saoirse Ronan (no papel principal) e de Laurie Metcalf (no papel da mãe) são notáveis, que o retrato de uma Califórnia suburbana e isenta de glamour é muito conseguido e que o argumento e a realização são competentes e seguros; porém, este filme é menos interessante do que alguns em que Gerwig participou como actriz ou argumentista (Frances Ha, 2012).