5 de maio de 2019

Leaning into the Wind: Andy Goldsworthy


Visto em DVD, o documentário Leaning into the Wind: Andy Goldsworthy (Thomas Riedelsheimer, 2017) estreou dezasseis anos depois de Rivers and Tides (Thomas Riedelsheimer, 2001), permitindo o reencontro entre o artista escocês, o realizador alemão, o compositor inglês Fred Frith e o Cinéfilo Preguiçoso. Em ambos os filmes se opta pela ausência de linha narrativa explícita ou voz-off didáctica: Riedelsheimer prefere deixar que as obras e as reflexões (escassas, mas sempre interessantes) de Goldsworthy assumam o primeiro plano. Contudo, há diferenças óbvias: em Rivers and Tides é-nos apresentado um artista totalmente empenhado na construção, demonstrando uma determinação implacável que a tudo se sobrepõe; em Leaning into the Wind, depois de a vida de Goldsworthy ter seguido rumos imprevistos (com o divórcio e a morte da primeira mulher), encontramos um artista mais preocupado com a  questão da integração – da arte e de si próprio na natureza e em relação aos que lhe são mais próximos. Há também evolução no conceito de natureza que é trabalhado: esbateram-se as diferenças entre o corpo do artista e a natureza, bem como entre a natureza e a cidade.  No filme mais recente vemos Goldsworthy integrar-se nas dimensões mais efémeras da sua arte, por exemplo deixando a chuva ou a neve desenhar o contorno do seu corpo no passeio de uma cidade mesmo sabendo que esta imagem desaparecerá pouco depois de ele se levantar do chão; subindo a uma árvore, atravessando uma sebe, abanando um arbusto sob uma chuva impressionante de pólen; trabalhando com folhas e pétalas; ou até enfrentando a intempérie numa colina e caindo às vezes por sucumbir à força do vento, numa aproximação à performance, uma vez que esta acção não deixa qualquer vestígio físico. Desta vertente mais efémera da sua obra resta apenas um registo fotográfico ou fílmico. Na dimensão menos efémera da sua obra, Goldsworthy trabalha com a materialidade da pedra, usando maquinaria pesada. Leaning into the Wind regista com atenção tanto os sons agressivos destas máquinas, como o do vento, da chuva, do rio que leva as folhas e as pétalas ou o som dos passos do artista sobre a lama, acompanhando a arte de Goldsworthy por lugares tão diferentes como a Escócia, os Estados Unidos, França, Brasil, Espanha e o Gabão. Embora se possa dizer que Rivers and Tides é um filme mais cru e mais desconcertante por mostrar um ser humano a tentar impor uma vontade de  criar que, em face da destruição a que é imediatamente vulnerável, chega por vezes a parecer incompreensível ou irracional, Leaning into the Wind desenvolve com mais serenidade e melancolia a reflexão sobre o que é efémero e o que permanece, a ponto de alguém já ter dito que se escolhesse um filme para ver antes de morrer, optaria por este.