Visto
em DVD, o documentário Leaning into the
Wind: Andy Goldsworthy (Thomas Riedelsheimer, 2017) estreou dezasseis anos
depois de Rivers and Tides (Thomas
Riedelsheimer, 2001), permitindo o reencontro entre o artista escocês, o
realizador alemão, o compositor inglês Fred Frith e o Cinéfilo Preguiçoso. Em
ambos os filmes se opta pela ausência de linha narrativa explícita ou voz-off
didáctica: Riedelsheimer prefere deixar que as obras e as reflexões (escassas,
mas sempre interessantes) de Goldsworthy assumam o primeiro plano. Contudo, há
diferenças óbvias: em Rivers and Tides
é-nos apresentado um artista totalmente empenhado na construção, demonstrando
uma determinação implacável que a tudo se sobrepõe; em Leaning into the Wind, depois de a vida de Goldsworthy ter seguido
rumos imprevistos (com o divórcio e a morte da primeira mulher), encontramos um
artista mais preocupado com a questão da
integração – da arte e de si próprio na natureza e em relação aos que lhe são
mais próximos. Há também evolução no conceito de natureza que é trabalhado:
esbateram-se as diferenças entre o corpo do artista e a natureza, bem como
entre a natureza e a cidade. No filme
mais recente vemos Goldsworthy integrar-se nas dimensões mais efémeras da sua
arte, por exemplo deixando a chuva ou a neve desenhar o contorno do seu corpo no
passeio de uma cidade mesmo sabendo que esta imagem desaparecerá pouco depois
de ele se levantar do chão; subindo a uma árvore, atravessando uma sebe, abanando
um arbusto sob uma chuva impressionante de pólen; trabalhando com folhas e
pétalas; ou até enfrentando a intempérie numa colina e caindo às vezes por
sucumbir à força do vento, numa aproximação à performance, uma vez que esta acção não deixa qualquer vestígio
físico. Desta vertente mais efémera da sua obra resta apenas um registo
fotográfico ou fílmico. Na dimensão menos efémera da sua obra, Goldsworthy
trabalha com a materialidade da pedra, usando maquinaria pesada. Leaning into the Wind regista com
atenção tanto os sons agressivos destas máquinas, como o do vento, da chuva, do
rio que leva as folhas e as pétalas ou o som dos passos do artista sobre a lama,
acompanhando a arte de Goldsworthy por lugares tão diferentes como a Escócia,
os Estados Unidos, França, Brasil, Espanha e o Gabão. Embora se possa dizer que
Rivers and Tides é um filme mais cru
e mais desconcertante por mostrar um ser humano a tentar impor uma vontade
de criar que, em face da destruição a
que é imediatamente vulnerável, chega por vezes a parecer incompreensível ou
irracional, Leaning into the Wind desenvolve
com mais serenidade e melancolia a reflexão sobre o que é efémero e o que
permanece, a ponto de alguém já ter dito que se escolhesse um filme para ver
antes de morrer, optaria por este.