Visto na televisão, Bergman – Um Ano, Uma Vida (2018) é um documentário sobre Ingmar Bergman realizado por Jane Magnusson, co-autora de Trespassing Bergman (2013), outro documentário sobre o mesmo realizador já abordado pelo Cinéfilo Preguiçoso. A julgar por estes dois filmes, que aliás não são os únicos que Magnusson dedicou ao cineasta sueco mais famoso de sempre, fica-se com a ideia de que a documentarista nutre uma admiração sincera pela obra de Bergman, mas que tem dificuldade em imprimir às suas abordagens a originalidade que lhes permitiria distinguirem-se da mediania. Bergman – Um Ano, Uma Vida centra-se em 1957 e desenvolve a tese de que este foi um ano-chave para o cineasta. Tratou-se de um período extremamente produtivo, incluindo as estreias de dois dos seus filmes mais conhecidos (O Sétimo Selo e Morangos Silvestres) e várias produções teatrais e rodagens, tudo isto enquanto Bergman lidava com uma vida pessoal e amorosa caótica. Magnusson postula que foi em 1957 que Bergman percebeu que a única maneira de superar, ou pelo menos de gerir, as suas neuroses e de criar uma obra válida seria explorar essas mesmas neuroses e angústias como tema principal dos seus filmes subsequentes, tendo essa constatação permitido que ele se exprimisse em total liberdade e alcançasse fama mundial. Esta tese é defendida de forma razoavelmente convincente, mas o filme seria mais interessante se explorasse com maior profundidade os acontecimentos do ano em questão. Não é isso que acontece: o produto final é um documentário convencional, repleto de imagens de arquivo, excertos de filmes e depoimentos, que abrangem toda a vida de Bergman e que transmitem uma imagem próxima daquela que é amplamente conhecida, embora com alguma informação nova sobre o lado mais sombrio e agressivo deste realizador e encenador (simpatias nazis, violência doméstica, abusos de poder). Em Trespassing Bergman, apesar das reservas que exprimimos, é preciso reconhecer que as intervenções de alguns realizadores e a sugestão de voyeurismo associada à exploração da casa do cineasta lhe conferem interesse e consistência enquanto objecto cinematográfico. Bergman – Um Ano, Uma Vida funciona como introdução a uma obra riquíssima e complexa e esboça algumas ideias que mereceriam ser mais desenvolvidas, mas não passa disso.